lucidez

Existe um enorme silêncio nesse canto da sala

Um cheiro estranho

Os bibelôs se entreolham parvos

Na expectativa de alguma tragédia arquitetada

Os cães uivam lá fora chamando a morte

As lanternas trimilicam ao vento

Há a possibilidade de tempestade

Meus olhos marejados pingam angústias lunares

indecifráveis

inquestionáveis

Nesse silêncio de monastério ouço meus próprios passos

E duvido do movimento

A dinâmica é uma ilusão da inércia

A inércia é a síncope contínua da dinâmica.

Ilusões,

frustrações.

Dedos cortados, talhos abertos

sem sangue,

sem lágrimas.

É a ausência de dor que esculpi o momento

Nesse canto da sala pressinto que meu

exílio é longe daqui

Aonde conheço as coisas, as ordens

e principalmente as desordens implícitas

Minha severa honestidade

mas parece crueldade,

mas não é...

Minha severa e fria razão parece

desumana e profana

mas não é.

Não quero me defender

Não quero acusar

Estou farta do tribunal das consciências.

Só quero ter o direito de escutar plenamente

o que me diz

meu silêncio interior

ainda que não decifre tudo,

ainda que não haja a palavra bastarda

a infectar tudo de semântica e símbolo,

ainda que haja somente gestos imaginários

refletidos na lucidez do espelho.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 05/04/2008
Reeditado em 21/04/2008
Código do texto: T932212
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