lucidez
Existe um enorme silêncio nesse canto da sala
Um cheiro estranho
Os bibelôs se entreolham parvos
Na expectativa de alguma tragédia arquitetada
Os cães uivam lá fora chamando a morte
As lanternas trimilicam ao vento
Há a possibilidade de tempestade
Meus olhos marejados pingam angústias lunares
indecifráveis
inquestionáveis
Nesse silêncio de monastério ouço meus próprios passos
E duvido do movimento
A dinâmica é uma ilusão da inércia
A inércia é a síncope contínua da dinâmica.
Ilusões,
frustrações.
Dedos cortados, talhos abertos
sem sangue,
sem lágrimas.
É a ausência de dor que esculpi o momento
Nesse canto da sala pressinto que meu
exílio é longe daqui
Aonde conheço as coisas, as ordens
e principalmente as desordens implícitas
Minha severa honestidade
mas parece crueldade,
mas não é...
Minha severa e fria razão parece
desumana e profana
mas não é.
Não quero me defender
Não quero acusar
Estou farta do tribunal das consciências.
Só quero ter o direito de escutar plenamente
o que me diz
meu silêncio interior
ainda que não decifre tudo,
ainda que não haja a palavra bastarda
a infectar tudo de semântica e símbolo,
ainda que haja somente gestos imaginários
refletidos na lucidez do espelho.