Desânimo

Estou deveras triste,

Nessas luas não há espaço para mim,

Os brilhos prateados não me pertencem

Tão quanto não pertenço a minha terra;

É como se tirassem do marinheiro seu mar,

Do gaúcho seu pampa... Do algricultor seu pomar!

É como se tirassem os sonhos de meu intimo

E com eles próprios fizessem minha desgraça

Pois, muito se sonha no pouco que se acredita

E muito se chora nas mãos da solidão...

O caminho é feito por pés errantes de quem invita

À boêmia nas noites levianas de prantear do coração.

Mas não soa mais nenhuma nota grave de baixo

Ou melodia chorosa nos tons da flauta doce...

É como se um fogo morto me esfriasse e consumisse

Tirando as liras de meus lábios e dedos...

Tirando o fogo ardente do peito e da mente!

Tirando a inspiração, a fúria, e o desejo!

E com isso, tudo o que eu mais almejo...

Pois apenas em chamas o lobo uiva, e somente

Sob a lua minguante e gelada da reflexão;

É como se saltasse do maior precipicio

Com a certeza passiva que jamais vai cair!

Amarrando-se nos fios da insegurança

Tecidos pelas mãos habeis do desânimo,

Marasmo padecente da graça e do dinheiro

Absorvente dos ânimos de minha alma,

Filha de um lar longiquo do estrangeiro

Onde não há nada além da própria calma!

É tão doce poder sonhar! Mais que o próprio mel!

Mas um sonho me intorpece trazendo à boca o fel,

Como se eu perdesse todo o simbolo de minha coragem

Atirando em minha garganta com uma arma, miragem;

É usar sempre sob o pescoço o mesmo sol negro,

E carregar consigo a mesma manta covarde...

Pois o febril peito delirante já não mais arde,

E assim aceitar sua própria condição efêmera.

É roer a pena até a tinta escorrer pelos dentes,

Sentir as palavras se esvairem como os vapores

De um cigarro fino que mata quem traga e sente

Toda sua alma e esperança subir ao céu dos descrentes;

Pois a luz fraca da manhã se tornou um remédio

A carregadora trágica e impetuósa de amores e temores,

Assasina vil de todo o meu tédio...

R Duccini
Enviado por R Duccini em 31/03/2008
Reeditado em 16/04/2008
Código do texto: T924394
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.