Desânimo
Estou deveras triste,
Nessas luas não há espaço para mim,
Os brilhos prateados não me pertencem
Tão quanto não pertenço a minha terra;
É como se tirassem do marinheiro seu mar,
Do gaúcho seu pampa... Do algricultor seu pomar!
É como se tirassem os sonhos de meu intimo
E com eles próprios fizessem minha desgraça
Pois, muito se sonha no pouco que se acredita
E muito se chora nas mãos da solidão...
O caminho é feito por pés errantes de quem invita
À boêmia nas noites levianas de prantear do coração.
Mas não soa mais nenhuma nota grave de baixo
Ou melodia chorosa nos tons da flauta doce...
É como se um fogo morto me esfriasse e consumisse
Tirando as liras de meus lábios e dedos...
Tirando o fogo ardente do peito e da mente!
Tirando a inspiração, a fúria, e o desejo!
E com isso, tudo o que eu mais almejo...
Pois apenas em chamas o lobo uiva, e somente
Sob a lua minguante e gelada da reflexão;
É como se saltasse do maior precipicio
Com a certeza passiva que jamais vai cair!
Amarrando-se nos fios da insegurança
Tecidos pelas mãos habeis do desânimo,
Marasmo padecente da graça e do dinheiro
Absorvente dos ânimos de minha alma,
Filha de um lar longiquo do estrangeiro
Onde não há nada além da própria calma!
É tão doce poder sonhar! Mais que o próprio mel!
Mas um sonho me intorpece trazendo à boca o fel,
Como se eu perdesse todo o simbolo de minha coragem
Atirando em minha garganta com uma arma, miragem;
É usar sempre sob o pescoço o mesmo sol negro,
E carregar consigo a mesma manta covarde...
Pois o febril peito delirante já não mais arde,
E assim aceitar sua própria condição efêmera.
É roer a pena até a tinta escorrer pelos dentes,
Sentir as palavras se esvairem como os vapores
De um cigarro fino que mata quem traga e sente
Toda sua alma e esperança subir ao céu dos descrentes;
Pois a luz fraca da manhã se tornou um remédio
A carregadora trágica e impetuósa de amores e temores,
Assasina vil de todo o meu tédio...