POEMA DO ADEUS (Ao meu cunhado Valterci - falecido)
Havia um tênue linha no horizonte,
Onde se encontravam, o mar e o céu;
No teu peito, um segredo, uma fonte,
Uma esfera encoberta de véu...
Uma chama ardente no teu coração,
O Sol flamejante, o sopro da vida
Que fez de tingidas da côr de carvão,
As nuvens sombrias da tua partida;
E tal como o encontro entre o céu e o mar ,
Tua vida encontrou teu silente destino;
Teus sonhos febris de viver e de amar,
Fizeram-te mergulhar em desatino;
Na mesma manobra, travastes a guerra:
Quis o destino do abismo de um poço,
Cobrir-te com véus de poeira da terra
E roubar-te o vigor deste lírio, tão moço!
Nada evitou que este Deus de Ternura
Estendesse a mão pálida, tão linda!
E num estupor de cruel desventura,
Colhesse este lírio, tão moço ainda!...
Não tinhas este olhar enevoado em tristeza,
Nem este porte curvado e sem graça;
Não eras ciente da triste certeza
Do que a vida nos faz ao tombar na desgraça;
Não tinhas este manto desfeito em mortalha;
Tu eras o príncipe de um conto de fadas
Mas os céus da tormenta, na longa batalha,
Salpicaram o mar com milhões de espadas!
Nenhum conforto, impediu, da tua alma,
Que uma gota orvalhasse os teus cílios
E sob este olhar relutante de calma,
Com a mão trêmula, abençoas teus filhos!
Mas a verdade que nos cala mais fundo,
O que a boca não diz, e a mão não escreve,
A certeza de estarmos de passagem na terra
É o que faz este adeus ser tão breve!
Esta mesma vida que te fez
Enfrentar vendavais de toda sorte,
Quisera, quem sabe,talvez,
Fazer-te infeliz, porém forte!
E lá no infinito, tão pouco distante;
Em silêncio, tua alma na espera,
Ficará, aguardando esse instante
Em que a morte ofusca a esfera.
Dos que estão entre nós iludidos
De que a vida não passa e não finda
E de que não somos, de Deus, os cativos
Que não foram libertados ainda...
Ouvirás ecoar as nossa preces;
Entre lágrimas, contermos o desengano
E essas lágrimas formarão, me parece
As águas de um gigantesco oceano,
E ao ver o teu sonho desfeito
(esse torvelinho incessante das águas,
Que sentes na alma e no peito),
Afogarás neste mar, tuas mágoas!
E neste calvário de soluços e ais,
Por qual passaremos todos nós,
Tu certamente encontrarás os teus pais
E o teu conforto, com eles, a sós!
Essas dores que parecem não ter fim,
Que te fizeram este peito tão morto,
Encontrarão o seu termo e um dia, enfim,
Encontrarás no teu Deus, o conforto!