O GRITO
O GRITO
Sônia Sobreira
Sou corpo cansado que nunca se acalma,
soluço cortado por mágoa infinita.
Eu sou a revolta que marca minh'alma,
ferida marcada por grande desdita.
Sou sangue que corre nas veias do povo,
sou a triste ilusão da plebe sofrida,
daqueles que caem mas se erguem de novo,
ferindo os seus pés na estrada da vida.
Sou força que luta pelo meu país.
Sou povo pisado mas nunca dobrado,
pedaços de sonhos que vêm do passado
trazendo à memória uma pátria feliz.
Sou criança descalça sem ter proteção,
a mão estendida que volta vazia.
Sou tudo, sou nada, talvez a quimera
daqueles que esperam e buscam um irmão.
Sou o grito que explode nas noites escuras,
o pranto abafado que um riso disfarça.
Sou a morte que chega mais cedo e mais fria.
Sou o grito de um povo que chora em poesia!
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