Carta ao Mundo Real
Não existem culpados reais, nem alvos definidos;
Consigo perceber que caí na armadilha da vida
Como todos sempre caem algum dia;
Mas alguns não conseguem perceber as veredas que existem
E auxiliam na jornada de retorno para casa;
Esses se perdem em caminhos estranhos.
O pêndulo que dita o ritmo de meus passos parece descompassado
E assim, perco meu caminhar e embaraço minhas pernas
Mesmo numa estrada curta e simples;
Não estou me perdendo em ciclos de minha própria mente
Melhor seria se fosse apenas isso;
Estou realmente ilhado, sem saídas, e é justamente isso que me atormenta agora.
Aprendi a carregar um fardo muito maior do que minhas forças,
Trago no peito uma bomba de nitrogênio
Que congela aos poucos todo o meu corpo e minha alma;
Não consigo me livrar dessa maldição,
E justamente por isso procurei o algum auxílio;
Não existem culpados nessa história,
Na verdade, existe apenas um caminhar desencontrado em busca de um viver pouco mais sólido.
Como fruto de um destino mal traçado
Restou apenas uma prisão fria, inalcançável por outros de bom coração.
Estar isolado do mundo parece uma perdição
Sonhar com a volta pra casa é triste como ser ilha num universo em expansão.
Estar exposto aos olhos dos outros,
Sentir vazio diante da multidão,
Sensações que não escapam da alma e torturam mais que adagas afiadas.
Não existem saídas dessa prisão, em canto algum.
Minha vida está dividida em duas paralelas que não se fundem nem no infinito
São dois planos distintos, que me fazem levar duas ou mais vidas
Sem que nenhuma delas completa ou preenche nada,
Como se eu fosse um protetor de preciosas relíquias
Até o último dos meus dias;
Ontem pude lembrar o quanto minha energia se perdeu nessa rota,
Poucos anos atrás havia outro cara em meu lugar,
Alguém que irradiava energia e aquecia ao redor;
Agora, existe esse outro calado, triste, pedindo um pouco de calor para si.
Eu não queria perder meus atributos, como perdi.
Só queria minha vida de volta.
Mas luto por isso há vários anos e não consigo encontrar nada.
Essa luta não é um ciclo, ela sempre existiu
E só às vezes se torna nítida,
Só quando eu me contorço e me ajoelho diante dela,
Só quando eu rastejo pedindo milhões de perdões,
Quando percebo, na verdade, que sou fraco demais pra superá-la.
Agora, essa luta se tornou uma grande revolução
E estou em trapos, porque não consigo mais respirar.
Não consigo mais ficar em silêncio, sem ser assombrado.
Perdi minha paz nessa briga sem precedentes.
Só me restou pedir abrigo, em qualquer outro canto.
Acho que descobri o motivo de tantas lágrimas:
Estou impaciente demais nessa disputa, depois de tantas derrotas;
Porque não me aparecem saídas
E estou cansado de estar ilhado em plena imensidão.
Eu cresci, e não houve outro jeito
E fico da janela observando o quão vago se tornou minha alma
Ainda ontem, pude brindar minha restrita vida com amigos
E ainda naquela hora, percebi o quanto minha alegria se perdeu nessa jornada...
Só peço agora um atalho pra voltar pra casa.
Só isso.
As arrumações depois da mudança ficam por minha conta.
Mas preciso encontrar o caminho de volta,
Antes de planejar outros sonhos.
Será que ainda serei capaz de manufaturar algum sonho?
Bem, esse é um problema pra depois.
Por hoje, só não quero mais chorar sozinho.