Folha em branco

Minhas asas não voam mais,

o sol cegou meu olhos para a realidade,

a chuva enxarcou meus sonhos,

ouvi ruídos inaudíveis de monstros,

fuji para dentro de mim mesmo,

esperando ser encoberto pelo eclípse,

na tentativa de esconder meus medos,

e só consegui ampliá-los numa lupa...

Agora sou a formiga perto de um gigante,

perambulando num zigue zague sem fim,

escalando paredes escorregadias de óleo,

cortando-me em espelhos quebrados pelo chão,

sangrando lágrimas que não choram mais,

no invisível de cada momento desperdiçado,

na solidão de uma alma descolorida pelo tempo,

trancado na torre mais alta de uma floresta cinza,

exorcizando em fogueiras meus fantasmas do vazio...

Não há nada mais o que perder nessa ausência,

não há mais o que ganhar com o fim do jogo,

todas as tormentas revoltaram as ondas,

o mar na ressaca derramou seu sal sobre a areia,

estrelas perdidas podem ser vistas no escuro da praia,

não há mais como voltar ao início de um fim decidido,

os cristais foram quebrados sem retorno ou cola,

transparecendo somente o nada de uma folha em branco...