ÚLTIMO VERSO

Escrevo um verso inútil, sem valor,
o último, talvez, da minha vida.
Depois, deixando tudo, vou pra fora
e bebo lá do céu toda poesia:
o azul com nuvens brancas, calmo e belo!
E quase sem pensar, volto a escrever.

Eu fujo, mas eu torno a escrever...
Quem sabe, um dia encontre algum valor
e possa traduzir um céu tão belo,
em versos que nos falem dessa vida,
repleta de beleza e de poesia,
que sempre chega a nós, vinda de fora.

Eu busco o belo pelo mundo:  fora,
a ânsia tão premente de escrever,
me encanta contemplar toda poesia.
Se tudo tem beleza e tem valor,
aos olhos do poeta, o que tem vida,
em si sempre retém algo de belo.

Se eu olho o mundo e sempre escolho o belo
o feio, o descalabro, eu jogo fora.
É dura a realidade desta vida,
desisto. Isso não serve pra escrever!
Só luto pra que tenha mais valor
aquilo que não cabe na poesia.

Quem dera eu encontrasse mais poesia
e assim, nos fatos, eu só visse o belo.
Quem dera a natureza em seu valor
pudesse  revelar, trazer pra fora,
apenas agradáveis de escrever
palavras que descrevam nossa vida.

Diante das tristezas de uma vida,
cruel e tão distante da poesia,
eu sinto até vergonha de escrever
meu verso, que procura pelo belo.
Pra quem, sofrendo, encontro eu lá fora,
sou fala inútil, sem qualquer valor.

Perdi o valor mais nobre desta vida:
lá fora, eu já  não acho mais poesia,
me falta o belo.  E sobre quê escrever?