SOLIDÃO DE POETA
Aqui faz frio noite e dia e o furor do sol se veste de brandura
O mais tranquilo dos instantes interiores é puro metabolismo
Aqui são proibidas todas as liberdades da minha censura
Aqui milhões de frases morrem num ouvir monossílabo!
Aqui a vacância de amor sufoca em sua superlotação
A infrutescência da inércia mata a fome da inapetência
Aqui sombras pedem empréstimo de luz à escuridão
Aqui o que empreendo não vinga, porque me sou forte concorrência!
Aqui os meus acordos são gestados na placenta da secessão
Os mais violentos conflitos se dão no interior de meu olhar plácido
Aqui a legião de meus pensares cometem deserção
Aqui meu sonho inflado de esperança, no espelho se vê flácido!
Aqui a circunferência de meus planos tem raio tortuoso
Os avisos que me dou em nome da alegria, têm áudio clandestino
Aqui o sustento da coragem vem do salário receoso
Aqui um tal de provável acaso é cognominado destino!
Aqui o sentimento eterno ganhou o beijo de um selo efêmero
Andar até chegar em lugar n'algum é meu melhor pragmatismo
Aqui sou substantivo sem artigo e classificação sem gênero
Aqui eu sou poeta sem aplausos, nos palcos do isolacionismo!