SOLIDÃO DE POETA

Aqui faz frio noite e dia e o furor do sol se veste de brandura

O mais tranquilo dos instantes interiores é puro metabolismo

Aqui são proibidas todas as liberdades da minha censura

Aqui milhões de frases morrem num ouvir monossílabo!

Aqui a vacância de amor sufoca em sua superlotação

A infrutescência da inércia mata a fome da inapetência

Aqui sombras pedem empréstimo de luz à escuridão

Aqui o que empreendo não vinga, porque me sou forte concorrência!

Aqui os meus acordos são gestados na placenta da secessão

Os mais violentos conflitos se dão no interior de meu olhar plácido

Aqui a legião de meus pensares cometem deserção

Aqui meu sonho inflado de esperança, no espelho se vê flácido!

Aqui a circunferência de meus planos tem raio tortuoso

Os avisos que me dou em nome da alegria, têm áudio clandestino

Aqui o sustento da coragem vem do salário receoso

Aqui um tal de provável acaso é cognominado destino!

Aqui o sentimento eterno ganhou o beijo de um selo efêmero

Andar até chegar em lugar n'algum é meu melhor pragmatismo

Aqui sou substantivo sem artigo e classificação sem gênero

Aqui eu sou poeta sem aplausos, nos palcos do isolacionismo!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 08/03/2008
Reeditado em 30/01/2012
Código do texto: T892752
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.