Embaraços
Agora restou o abraço
Como única lembrança real da nossa existência
E nem sei o quanto poderei aguentar assim,
Com tão pouco, diante do meu maior anceio;
Algumas rotas são distorcidas
Como guitarras em tom fúnebre de despedida
Sem deixar espaço para nossas lágrimas,
São rotas curtas e sem saída,
Rápidas como uma flecha certeira
Prestes a dilacerar nossos corações.
Agora, com o pouco que nos resta,
Descobrimos a verdade:
Estivemos ilhados no mesmo quarto
Sem saber ao certo
O que poderia ser dito naqueles segundos de ouro.
Talvez usamos mal nosso tempo;
Talvez tivemos medo do real,
Que batia em nossa porta a cada instante.
Ficamos assim por dias
Sem ao menos tentarmos um novo olhar
Como se o fim estivesse escrito
Nas entrelinhas de nossos sorrisos quase perfeitos;
Dançamos ao som de Toquinho
Numa valsa em tom de bossa
Que insistia em nos acordar para a realidade
Lançando sinais a cada compasso
E misturando um pouco de samba em nossa confusão;
Ficamos perdidos
Misturados nessa miscelânea de arranjos
Dançando sem pé nem cabeça
Num aglomerado de sonhos que nós mesmo compomos.
Talvez exista realmente uma sina,
Um destino maltratado que nos desloca para o canto da estrada
Simplesmente por não querer nossa compania;
Não faz sentido perder todos os sonhos assim,
Como quem perde a história
Após passado o vendaval.
Parece que estamos no núcleo de um redemoinho
Tentando agarrar a algo que nos traga de volta
A garantia de terra firme.
Assim, nesse turbilhão de sentidos
Seguimos tentando nos amarrar à vida
Como se nos próximos segundos
Tudo pudesse se transformar em perfeição
E finalizar em simetria ideal,
Feito bonança de março em nossos corações.