UM Ero de minha Juventude SANDRA II Meu retorno
Sandra II (9 anos depois...)
Lembrança de uma volta
I
Voltei; assim como partira um dia
Silencioso, furtivo um pouco relutante
Ante meu eu, no ápice de um instante
Voltou-me a dor que à custo eu reprima.
Sem revelar a face, a alma sofria
O remorso falaz e aviltante,
Lembrando o dia, a hora, que hesitante
Dali a nove anos, silencioso fugia.
Plantado ao meio da sala, agora ouvia
Imprecando comigo, o chão, o teto
E olhavam-me as paredes como a um desafeto
Que fugindo covarde, as desertara um dia.
Busquei firmar o vácuo que sentia
Em meio a sala, qual meio ao deserto
Bati sonoras palmas, e ouvi perto
Uma voz anunciando que “já viria”
II
E veio; e ante mim extática e deslumbrada,
Ficou parada, quase desvalida
Sentido em mim a força desconhecida
Que tinha a solidão na qual fora criada.
Era uma moça feita, porém nada
Havia nela, alem da criança querida,
Pedaço do meu ser, metade de minha vida
Que fora cruelmente, por mim abandonada.
Som algum emitimos, e a vida, ali, calada
Reconhecendo a parte antes perdida
Busca a lembrança nunca esmaecida
E mal contem a ânsia acumulada.
Abrimos os braços, eu, sem dizer nada,
C’os olhos rasos d’água, via-a mal contida,
Vontade filial, o sonho de sua vida
De abrigar-se e meus braços e ser amada.
III
Num ímpeto do amor que regurgita,
Entre meus braços que a cingem fortemente
E nossas almas foram de repente
Uma alma só que de amor se agita.
E toda a dor antiga que habita
Minha alma, se esvai, e de contente
Jorrava-me pela face o pranto quente
Que soluçante a alma precipita.
E a criança que deixei, aflita
Entre meus braços instantaneamente,
Cresce, e enterra o mal, que inconseqüente,
A fiz tirando-me a desdita.
Dezenas de anos vão, da hora bem-dita,
Que a revi e abracei silenciosamente,,
E a emoção que senti minha alma sente,
Sempre que a revejo tão bonita.
Escrito em Fortaleza-Ce, casa da Sandra, 33 anos depois.