Blue

Enquanto descanso

de mim mesmo

apodreço, relutante

A dor mergulha

sem oxigênio

com a saudade a tiracolo e

me sinto tão desligado de tudo

como se meu umbigo tivesse sido cortado

o que me funde ao universo

me contrai e destrói

dissimulando odores

do que se varreu pra debaixo do céu

a porta aberta,imaculada

e os olhos vigiando o nada

e a beleza trágica de dois segundos sorrindo

dá lugar ao sono brutal

um pesadelo reconfortante

Se ao menos pudesse escolher

se pudesse ler a tinta invisível

com a qual foi escrito o livro mágico da vida

me vejo perdido,mortalmente aceito

e arrastado por ventos escuros e violentos

nada me cura,nada me alimenta

e as cores sobram pra fora da alma

descuidadas

um aborto espontâneo de crenças

um suicídio numa manhã de dezembro

calado como um imã desmagnetizado

sôfrego,desmanchando ,derramando tristezas pelo caminho

e sua imagem me vem como uma miragem em preto e branco

um espelho quebrado em mil pedaços

Descobri tardiamente que nada vai estancar

o sangue que meus olhos vertem

iluminados pela dor estagnada da certeza

que nada vai voltar.