"Quem Ama..." = Poesia de Tristeza=
Era uma noite de inverno
Eu estava sozinho na vida
Aquele seu sorriso terno
Deu-me uma boa aquecida
Sorriso de gente educada
Agradecendo a gentileza
Pela porta bem segurada
Por mim, com delicadeza
Porta de bem forte mola
Solta, batia com violência
Tive, porém, a boa escola:
Minha família e a vivência
Correspondi a seu sorriso
Que era um mudo obrigado
Agradecer nem era preciso
Sentia-me recompensado
Juntos no velho elevador
Encarei-a, ainda sorridente
Senti uma pontinha de amor
Pelo seu jeitinho atraente
“Esse elevador podia parar
E nos deixar na escuridão...”
A gaiola pareceu me escutar
Parou no tranco, de supetão
Acendi o isqueiro e a olhei
Era de susto sua expressão
Com carinho na voz a acalmei
E mansamente lhe dei a mão
Durante meia hora ali ficamos
Esperando pela manutenção
Claro que muito conversamos
Cada um abriu o seu coração
Assustada, mas já acalmada
Demonstrou até certa alegria
Chegou a dar uma boa risada
Esquecida da claustrofobia
Ao sairmos da breve prisão
Convidei-a para comemorar
Merecia um brinde a ocasião
Que nos permitiu encontrar
Fomos para meu apartamento
Bebemos um pouco, dançamos
Curtimos bem aquele momento
Aquela noite juntos passamos
Passei muitos dias sem vê-la
Muito tempo sem notícias suas
Resolvi que devia esquecê-la
Não a procuraria pelas ruas
Um dia peguei um velho jornal
De duas semanas ou até mais
O que vi e li me fez passar mal:
Foto dela nas notícias policiais
Um ex-namorado inconformado
Sobre quem ela já me contara
Mortalmente a havia baleado
Em seguida também se matara
Como pode alguém chamar amor
O que sente por quem assassina?
Como em um filme de puro terror
Um triste fim teve a quase menina