"Quem Ama..." = Poesia de Tristeza=

Era uma noite de inverno

Eu estava sozinho na vida

Aquele seu sorriso terno

Deu-me uma boa aquecida

Sorriso de gente educada

Agradecendo a gentileza

Pela porta bem segurada

Por mim, com delicadeza

Porta de bem forte mola

Solta, batia com violência

Tive, porém, a boa escola:

Minha família e a vivência

Correspondi a seu sorriso

Que era um mudo obrigado

Agradecer nem era preciso

Sentia-me recompensado

Juntos no velho elevador

Encarei-a, ainda sorridente

Senti uma pontinha de amor

Pelo seu jeitinho atraente

“Esse elevador podia parar

E nos deixar na escuridão...”

A gaiola pareceu me escutar

Parou no tranco, de supetão

Acendi o isqueiro e a olhei

Era de susto sua expressão

Com carinho na voz a acalmei

E mansamente lhe dei a mão

Durante meia hora ali ficamos

Esperando pela manutenção

Claro que muito conversamos

Cada um abriu o seu coração

Assustada, mas já acalmada

Demonstrou até certa alegria

Chegou a dar uma boa risada

Esquecida da claustrofobia

Ao sairmos da breve prisão

Convidei-a para comemorar

Merecia um brinde a ocasião

Que nos permitiu encontrar

Fomos para meu apartamento

Bebemos um pouco, dançamos

Curtimos bem aquele momento

Aquela noite juntos passamos

Passei muitos dias sem vê-la

Muito tempo sem notícias suas

Resolvi que devia esquecê-la

Não a procuraria pelas ruas

Um dia peguei um velho jornal

De duas semanas ou até mais

O que vi e li me fez passar mal:

Foto dela nas notícias policiais

Um ex-namorado inconformado

Sobre quem ela já me contara

Mortalmente a havia baleado

Em seguida também se matara

Como pode alguém chamar amor

O que sente por quem assassina?

Como em um filme de puro terror

Um triste fim teve a quase menina

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 26/02/2008
Código do texto: T875938
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.