um choro no cais

depois de observar o seu olhar

mirando aquele sonho distante,

percebi que o tempo passa sob nossos pés depressa demais

e distrai o equilíbrio da nossa dança.

porque o nosso compasso, ninguém há de compreender,

nem de acompanhar.

nossa valsa é restritamente nossa,

e é leve, suave, completa;

fundamental para o caminhar.

porém agora, nosso gingado se desfez,

e eu que sempre achei ter razão em tudo

acabei encoberto pela onda do improvável,

e naufraguei em plena terra firme

onde os medíocres são enterrados.

fico sem o teu brilho

que iluminava e orientava minha rota

e passo a entender quão escuro pode ser o caminho

quando somos displicentes e pensamos conhecer tudo ao redor.

depois de algumas estações chuvosas,

as primeiras rugas surgem em minha face

e ainda nem aprendi a escutar minha própria alma.

vou fenecendo na tristeza de meu olhar perplexo,

como quem acabou de perder o trem;

e quem perde o trem nessa altura da vida,

corre o risco de perder também o barco,

e o sonho, e o sol.