O SENTIDO

Ele ficava diariamente,
Assentado no banco em frente,
À praça central,
Apreciando o não sei o quê,
Da vida,
O mundo desigual,
Pensando na rigidez da lida,
Quase não falava,
Nunca sorria,
O denso olhar mostrava,
Algo muito o entristecia,
Sempre que eu passava,
Dava-lhe um tímido bom dia,
Com a mesma timidez ele me acenava,
A cena sempre se repetia,
Tanto me incomodou aquele semblante,
Aquele ponto de interrogação,
Que batia em mim uma constante,
Vontade de aproximação,
Talvez eu pudesse extrair daquela alma anciã,
Palavras que deixassem leves as suas manhãs,
Talvez, quando o novo sol se abrisse,
Eu pudesse vê-lo sorrir.
...
Novo dia então,
Acelerado coração,
Decepção;
Tarde demais para tentar,
De alguma forma mudar o sentido,
Versos destorcidos,
No banco da praça,
Sob meu olhar sem graça,
Um corpo estendido.