Me deixe dormir!
Me deixe dormir!!!
Guida Linhares
Ah! Poeta, me deixe dormir!
Neste palco da minha vida,
não quero mais ilusão sentir.
Vagando na rua dos sonhos,
vestindo-me de luzes,
com olhos risonhos.
E depois sentir o frio,
abastecendo o coração
com o desengano e o desafio.
No pio da coruja me entristeço,
lembrando velhos tempos,
em novelos que entreteço.
Em suas linhas frágeis,
tanta vida e formosura,
dissolveu-se em tramas voláteis.
O vento que me toca,
traz o sussurro dos tempos,
que nada, nem ninguém retoca.
Ah! Poeta...prefiro dormir.
A ter que abrir os olhos,
e de sonhos me despir.
No latido do cão distante,
evoco um tempo tão bom,
onde tudo era radiante.
No rosto amado, um sorriso.
Do abraço só ternura,
e o amar sempre preciso!
Veio depois o contraste,
nas palavras em torvelinho,
transformando tudo em traste.
Frágil sustento amoroso,
diluído na rotina do cotidiano,
nem mais Gardel, nem beijo guloso.
Os paturis não mais se amaram,
as lagartixas fugiram lépidas,
os vaga-lumes se apagaram.
No palco a lua entristeceu,
a natureza de luto se cobriu,
pois que um grande amor morreu!
Ah! Poeta, por favor
apague a luz...
deixe-me dormir!
Santos/SP - 05/02/08