Anatomia do vazio
Sou pus, sou fétido, sou matéria resignada,
Sou o jorro embrionário que não serviu de nada.
Sou o que a própria morte hesita em carregar!
A carne, esta epiderme vil, queima com ardor,
Exala um miasma tétrico e silente em seu interior.
Que as moscas da angústia querem tocar e beijar!
A ansiedade se arrasta como um verme ativo,
Nervos em espasmos elétricos gritam sem motivo.
Desordenados como uma marionete de fios partidos que não se podem reparar!
No rosto, um sorriso grampeado à carne, forjado,
Mandíbulas abertas num rictus forçado.
Sangramento absconso, um vazio na alma que não se pode negar!
Meu coração, tênue como papel rasgado,
Meus órgãos trêmulos bradam angústias, desesperados.
A alma ensanguentada se dissolve em sentimentos que só Deus pode acalmar!