A Porta Branca do Paraíso
Duendes em volta do meu leito
O cheiro, que cheiro!
Perfumes que me deixam nostálgica
Cores do cavaleiro. Ai! Que cavaleiro
Veio aqui, nessa noite mágica.
Estrelas mortas caem do céu como lágrimas
E cada uma que despenca se explode, se destrói
Pelo desejo tão pedido que não foi realizado
E em lugar da esperança, um corrói
E um negro espaço cósmico de mim apoderado
O cheiro de água me lembra a tarde
O calor úmido gostoso e abraçado
As flores grisalhas de um tempo que não foi meu
O riso que não foi meu
Do rosto que não foi meu
Da alma que não foi minha
E nem foi a estátua afrodítica no aguardo de uma alma pobre.
Pobre alma, feita de carne podre
Carne fétida enlamaçada
Escorando pela parede deixando manchas estrábicas.
O piso branco ensangüentado em cada passo pisado
Feridas profundas entre os dedos pesados
Arrasto e escorrego nesse chão duro da mortualha
E com a língua lavo o solo amargo avermelhado
Não é da carne enlamaçada que o sangue escorre
Esse é o sangue da alma que chora e da alma que morre
Pelo amor não consumado.