DESENCANTO NO PRIMEIRO AMOR
Aos dezesseis anos, eu não sabia escrever,
Na roça trabalhei, com a terra a ceder,
Cavei poço fundo, com o sol a arder,
Fui ajudante de pedreiro, sempre a aprender.
Sabia pescar no rio, nadar na corrente,
Cozinhar com amor, e lavar o presente,
Mas cego na vida, um tanto inconsciente,
O mundo era vasto, porém indiferente.
Não acreditava em fuxicos, nem em mentiras,
Pasme, vi a verdade em palavras vazias,
Na igreja evangélica, busquei as sadias,
Pensava encontrar a paz entre as folharias.
Mas nem todos são iguais, a maioria,
Lá começou a apagar meu brilho e alegria,
A doçura da alma sucumbindo em agonia,
Em busca da salvação, perdi a harmonia.
Olhando para trás, vejo as marcas profundas,
Na lida árdua, as esperanças fecundas,
Mas a fé que busquei trouxe lutas rotundas,
E a luz que eu queria, em sombras se afunda.
Como um barco à deriva, sem rumo ou destino,
Eu navegava nas águas do sonho divino,
Mas a verdade crua, um golpe repentino,
Desnudou minhas crenças, deixou-me em desatino.
O coração, outrora leve, agora é pesado,
Carrego as memórias de um tempo sagrado,
E entre as preces e risos, um fardo indesejado,
Sinto que a inocência se foi, desgastado.
Aos dezesseis anos, aprendi a dureza,
Na terra, no amor, na frágil certeza,
E ao olhar para a vida, com toda a tristeza,
A esperança renasce, em busca de beleza.