infinito

sentado no topo do universo

rodeado de pontos brilhantes

lares de infinitas possibilidades

anfitriões de inconcebíveis mistérios

minha mente reclusa se pôs a ponderar

munido de conhecimento sobre tudo

existente além do véu das trivialidades

alvo de concedimentos da iluminação

nunca recebidos por ninguém

senti-me saturado

incapaz de formular pensamento

ou conclusões

incapaz de formular perguntas

incapaz de lidar com a frustração

diante de minha incapacidade intelectual

sentado no topo do universo

continuei cego para as mais básicas

premissas da vida

eu deveria ter feito melhor

deveria ter alcançado e ultrapassado

as limitações de minha mesquinhez

caminho e tropeço

falo e gaguejo

amo e odeio

escrevo e me engano

sutilmente as luzes se apagam

se movem para lugares nos quais

serão realmente apreciadas

meus olhos estão nublados

assim como minha mente

minhas palavras estão incoerentes

assim como minhas ações

não sei porque faço

qualquer coisa

não sei porque insisto

em acreditar em ilusões de outras pessoas

a oportunidade me foi concedida

e a transformei em sonho esquecido

vezes e mais vezes

bençãos me são concedidas e nelas

escarro com minha ignorância

por quanto tempo mais?

tamanha inaptidão não deveria existir

minhas mais soberbas conclusões

se provam completamente falsas

meus mais profundos sentimentos

se provam rasos com fantasia

de profundos

então se sentado no topo do universo

palavras desconexas são tudo que consigo

elaborar

talvez todo o sofrimento faça sentido

e a atribuição da culpa no construto social

seja apenas uma desculpa fajuta

para minha ignorância e falta

de visão sobre o caminho a ser seguido

transformar o simples em complexo

criar os próprios obstáculos em minha caminhada

exige um tipo de talento especial

e este talento

é o que vos fala nesse fragmento decepcionante

registrado aqui

por uma mente em declínio

prolixa

limitada

soberba

e estúpida

fique com meu lugar

retorno à sarjeta onde os deslocados

devem permanecer

e se lá nem os ratos me deem as boas vindas

talvez um manicômio se sinta na obrigação

de abrigar este idiota

que chora como criança e deseja como adulto

fraco e miserável

dependente e asqueroso

não se preocupe

eles saberão onde me encontrar