escombros
finalmente havia me cansado
daquela casa de pedra
construída para suportar
as mais cruéis tempestades
e mais profundas tristezas
do coração
o vento não oferecia perigo
a chuva não penetrava em seu telhado
o terremoto não derrubaria suas paredes
mas um beijo a faria desmoronar
um olhar a faria fraquejar
uma palavra a faria ruir
era uma obra prima que protegia
e destruía
minha marreta ecoou naquelas montanhas
com raiva cada movimento explodia em pedaços
de pedras
todas as memórias se espalhando como sangue pelo chão
toda a felicidade ausente há muito tempo
vagava feliz por outros lugares
esquecida de todo o esforço, dor e esforço
que um dia ergueram algo tão belo
pouco a pouco tudo foi ruindo
partes de mim esmagadas juntamente
com aquela obra inútil que nada trouxe
senão enclausuramento
solidão
e incompreensão
a tolice era grande demais para ser suportada
com escárnio sentia suas mãos frias em minhas costas
afagando-me como se aprovasse minha atitude
sussurrando como se compreendesse meus pensamentos
concordando como se entendesse minhas palavras
no fim minha casa ruiu
meu corpo em meio a seus escombros
minha alma, desaparecida
há muito morta
sem lugar para ficar
sem lugar para fugir
sem companheiro para acompanhar
sem esperança para continuar