regresso
o homem cabisbaixo
sentou-se e abriu seu livro
favorito
estranhamente, as letras pareciam
não mais fazer sentido
o idioma desconhecido o fez refletir
sobre o por que daquele ser seu livro favorito
o homem cabisbaixo
sentou-se e de um pano branco e limpo
retirou sua comida favorita
para desfrutar enquanto olhava para o céu
chuvoso e desanimado
para sua surpresa, o gosto era terrível
fazendo-o cuspir com nojo
aquilo que tanto amara certa vez
o homem cabisbaixo , então
perturbado com estes acontecimentos
levantou-se e pôs-se a caminhar
murmurando consigo mesmo
perplexo com tantas mudanças inesperada
pouco a frente encontrou um velho homem
dedilhando distraidamente em seu violão carcomido
sua música favorita
um sorriso permeou seu rosto e preparava-se para
escutar por alguns minutos
mas logo sua expressão de felicidade se transformou
pois cada nota fazia seus ouvidos doerem
e não podia crer como tão aberração poderia um dia
ter sido sua canção favorita
por fim, chegou em sua casa e olhou para sua esposa
ela estava de costas, preparando o jantar que ele tanto
adorava
quando o ouviu ela se virou e sorriu o sorriso do amor
e o homem cabisbaixo nada mais que nojo sentiu diante
daquela bela demonstração
preocupada ela se aproximou e perguntou
o que havia de errado
o homem não possui resposta e permaneceu em
silêncio ressentido
havia perdido sua sanidade?
ela o beijou com preocupação e sua reação foi
de puro desespero pois aquele toque carinhoso era como
a pior das torturas
o homem então gritou e chorou enquanto retornava
para o campo, agora em chuva torrencial
encontrou o precipício mais alto
e antes de se jogar não pode deixar de pensar
em como, sem aviso nenhum
todo seu mundo se transformou em uma cadeia
interminável de incongruências e inversões
no qual tudo aquilo que sempre amou
passou a constituir o cerne de todo seu ódio