luz à janela

passo meus dedos por esta mesa

e vejo o quanto de poeira acumulou

escuto os sons do mundo lá fora

e relembro o tempo que nela passei

dizendo sobre mortes de sentimentos

e verdades absolutas

de forma pretensiosa e

arrogante

olho pela janela e o céu

que já não reflete sua cor

em meus olhos opacos

me diz sobre a calmaria e a paz

que permanecem ainda

inalcançáveis

para esta mente alquebrada

olho para a caneta partida

em sua tinta que se espalha sobre a madeira

e vejo somente o arrependimento

de uma sombra que alucinou

saber sobre o que falar

não existe culpa a ser atribuída

a poeira se levanta

o sol brilha

os olhos veem

e a tinta pinga

do chão recolherei as folhas manchadas

encurvado pela dor da tolice

marcado como sangue pela tinta derramada

e levarei para que comigo nunca desapareçam

ainda que portem palavras impertinentes e

sem valor

ainda que insistam em distorcer a simplicidade

deste mundo

ainda que carreguem em si a essência

de um homem que pensou

a verdade dizer

em violência, em nojo e em

amor