tortura

sentaram-me em uma cadeira

confortável, de cores enjoativas

em um local de escuridão e silêncio

foi-me negada a liberdade

pois mesmo que invisíveis

correntes grossas me prendiam

obrigando-me a assistir

o espetáculo da morte

do amor

em toda minha soberba intelectual

em todo orgulho de minha vasta imaginação

nunca havia visualizado ou considerado possível

um cenário tão doloroso e real

talvez para outros infelizes neste mundo

rodeado de gritos silenciosos

e gestos sem significado

mas nunca comigo

nunca seria submetido

à tal ato sem significado

e fora de meu controle

lágrimas secaram no chão

pristino que em cercava

a raiva se foi muda e patética

sem poder olhar para trás

ou vislumbrar qualquer futuro

toda sua potência esmagada

pelo peso inexorável de um destino

distorcido e malevolente

sentado observei

por tempo demais

tudo o que uma vez acreditei ser infinito

quebrar lentamente

sem que deixasse qualquer pedaço

a ser recolhido

finalmente o evento se concluiu

e sua plateia de um foi deixada

sem saber início, meio ou fim

desolada e desnorteada

as correntes removidas

as pernas bambas sem direção

os pensamentos incapazes de encontrar

coesão

a camisa ainda enxarcada de lágrimas

o cérebro cansado

a mente inundada

pela raiva sem direção

acontecerá de novo

não importa o quanto

eu tente esquecer

gostaria de uma cadeira do meu lado

no próximo desgraçado

espetáculo que esta

aparente maravilhosa vida

tem a oferecer?