Murro em ponta de faca

Sem remendos

Sem rodeios

A luta não é cíclica

Ela é todo dia

E o dia inteiro

Com os donos do poder a parada é desumana

As desculpas são embrulhadas em seda

Delicadeza e paciência

Nisso acaba a farinha

Enche o saco essas velhas piadas

Porque a pêa é no nosso lombo

É na nossa carne que pulsa a decência

Sangramos sem pudor

É melhor que o horror da vitória dos caras

Só que com essas derrotas gloriosas o futuro vai ficando sem nenhum caroço de esperança

Sobra sombras nos contratos

Entrelinhas

Gente miúda

E o contrato social vai entrando pelo ralo

Sou representado?

Qual será o sentido disso?

Hoje fui roubado

Não foi a mão armada

Na compra do pão

Na escola fossilizada

O amanhã vai ficando distante

O hoje se concentra em nada

Não dá mais para segurar

O coração popular não explode

Não querem mais derrubar Bastilha

Todos estão surdos

E assim vou ficando mudo

Quieto

Não canto mais aquela música que fala das ruas

Esperar não é saber

Eu não espero mais nada dessa gente

Cheias de fé e rituais

E os ridículos tiranos tirando o nosso suor

Calando nosso sorriso

A caverna está cheia

A televisão está ligada

Chove lá fora

As correntes estão apertadas

Não há fuga possível

Apenas a velha novela

A sina tropicalizada

Marcos Frank
Enviado por Marcos Frank em 28/10/2024
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