Murro em ponta de faca
Sem remendos
Sem rodeios
A luta não é cíclica
Ela é todo dia
E o dia inteiro
Com os donos do poder a parada é desumana
As desculpas são embrulhadas em seda
Delicadeza e paciência
Nisso acaba a farinha
Enche o saco essas velhas piadas
Porque a pêa é no nosso lombo
É na nossa carne que pulsa a decência
Sangramos sem pudor
É melhor que o horror da vitória dos caras
Só que com essas derrotas gloriosas o futuro vai ficando sem nenhum caroço de esperança
Sobra sombras nos contratos
Entrelinhas
Gente miúda
E o contrato social vai entrando pelo ralo
Sou representado?
Qual será o sentido disso?
Hoje fui roubado
Não foi a mão armada
Na compra do pão
Na escola fossilizada
O amanhã vai ficando distante
O hoje se concentra em nada
Não dá mais para segurar
O coração popular não explode
Não querem mais derrubar Bastilha
Todos estão surdos
E assim vou ficando mudo
Quieto
Não canto mais aquela música que fala das ruas
Esperar não é saber
Eu não espero mais nada dessa gente
Cheias de fé e rituais
E os ridículos tiranos tirando o nosso suor
Calando nosso sorriso
A caverna está cheia
A televisão está ligada
Chove lá fora
As correntes estão apertadas
Não há fuga possível
Apenas a velha novela
A sina tropicalizada