MONÓLOGO DE UM ADEUS UNILATERAL
Que o silêncio da morte me aqueça
No frio e na poeira da longa estrada
E que o bom dia de ontem fique guardado
Na lembrança de alguém que deixei a esperar.
Meu sorriso? Quero-o como planta,
Aprofundando suas raízes.
Deixarei uma lagrima e levarei cicatrizes.
E que a angústia do dia seguinte não me rasgue o peito
Para que meus sentimentos lá guardados não venham ao chão.
E meu último sorriso seja quase perfeito,
Pois a mulher que amo terá a ilusão de que fui feliz.
E abriram as cortinas do anfiteatro da vida,
vi Leônidas, Ullisses, Heitor, Aquiles
E todos os vencedores que sorriram para a morte.
Eles não se perderam, nem se atolaram
Na lama parva da indecisão.
Pois a indecisão é a mais inútil das decisões.
E torna o ser escravo de verdades impostas
No decorrer dos séculos.
A poeira que respiro do sim, do não, do ópio do mundo,
Da boca doce que me deu saudades
É apenas uma coletânea de fragmentos
Que em alguns momentos me prende na minha liberdade.
Pressupostos de um mundo cognitivo,
Paradoxos, paradigmas neoliberais...
Escravizam o homem que sou, após o ser menino.
Aos domingos prefiro a parceria dos viajantes,
Para que as algemas da mídia parcial
Não alcance meus pensamentos.
E nessa viagem comigo mesmo
Senti o calor dos astros e dos cometas
Escutei poesias em outros planetas
E respiro a filosofia Ramalial (De Zé Ramalho)
Embriagando-me no cheiro da alma cósmica.
E no aboio nordestino me vi menino
Ao pé de mandacaru e como um ser inocente
Senti que o ópio do mundo
É não querer ser um grão de poeira do universo.
Não deixei que me cortassem a garganta,
Mas provei do soluço da dor,
Que engasga a alma no único momento de silêncio,
Onde nada é pra ser explicado,
Como o fogo que queima insanamente
Os que vivem na congelada solidão.
Quanto a mim, parto sozinho.
E, mais ninguém levarei...
Deixo apenas o meu carinho
Nas bocas que eu beijei.