AO TUIUIÚ, LÁGRIMAS DE CARBONO...

Toda a amarga lama do Rio Doce não seria suficiente.

Haveria outros rios, secos e mudos, a correr a chuva de fuligem ácida.

E tantos outros inaudíveis gritos por socorro...soariam mudos.

As labaredas das corrupções subiriam aos céus

À direita e à esquerda, em meio ao centro das intenções ludibriadas...

Às margens perdidas das já tantas perdidas direções.

Das chamas eclodiriam as densas fumaças...

Enorme cogumelo de todos os tons nublados,

Nuanças escurecidas da carbonização dos sentidos.

O Sol desligaria sua enorme lanterna dourada

Dentre fumegantes cinzas do tanto descuido,

Protagonista maior das infinitas mortes anunciadas.

Dentre o todo não feito, desfeito e não refeito

Pelos ares em total desrespeito.

Cresceriam as labaredas.

Dos tantos " tanto-faz"!

Dos tantos " de qualquer jeito".

Dos tantos " não saber fazer".

Dos tantos " eu prometo! "

Dos tantos " eu acredito!".

Dos tantos pavimentos arenosos lançados aos pântanos das negligências que engolem tudo.

Subiriam as altas labaredas.

As dos "fisiologismos" que negociam e ceifam o fluxo das águas das chuvas, dos rios e dos mares.

Das tantas sedes implementadas pelas encenadas empatias.

Dos acordos que arrancam as raízes da terra , cortam os braços das folhas e derrubam os ninhos dos voos.

Das negociações que dividem e incendeiam toda a unidade construída.

Da paz minada nos púlpitos.

Das migalhas jogadas às tantas fomes carbonizadas em vida.

Hoje, o inferno queima o céu.

No horizonte sem linha

Apenas a fumegante fumaça em crescente

do que nunca foi, nem nunca será.

Todas as resistências, inválidas e ludibriadas de legítimo propósito,

Não seriam suficientes para salvar a VIDA.

O grito queimou sua voz.

Mais um Tuiuiú, de asas em chamas, risca um céu invisível.

Um céu que um dia foi.

Ele também acreditou que podia.

Tenta , sem rumo e sem nada entender,

alçar seu vôo para mais uma morte planejada.

Não lhe haverá féretro.

O seu céu também queimou .

E sequer lhe conseguirá chover lágrimas de carbono.