Insolência de um coração

Contemplo a insolência de meu coração

que, atrevido, teima em carregar sentimentos

que a Ninguém importam.

Em meio ao vazio e à solidão,

sobram as penúrias de minhas asas

admoestadas ao não voo,

mas ousadas a ponto de se atirarem

dos penhascos à planar palavras

na madrugada insone.

Volto mais uma vez os olhos -

em recordo de cândida excitação -

para a tênue delicadeza dos olhares

que - silentes - se cruzam

em nossa janela do tempo profundo

em piscares e explosões de cores e luzes.

Compreendem-se sem palavras,

no entanto, ainda falta fazê-lo

no toque de pele, de mãos...