Tal qual os cachorros que perseguem os carros

Sempre fui do tipo que acreditava fielmente

Que o próximo passo vindouro solucionaria

Todos os outros passos tortos que eu dei

Para chegar até aqui.

Buscava incessantemente pela próxima etapa,

E quando finalmente a alcançava,

Não sabia como proceder.

Tal qual os cachorros que perseguem os carros

Pois amam a ideia de correr

Mas não fazem ideia do porque.

Ao aterrissar em novas ilhas, percebia

Que o antigo não era tão ruim

E o atual não era satisfatório o suficiente,

Já ciente que o próximo passo

Seria minha nova obsessão.

Nesta toada eu caminhei, passei por diversos lugares

Testemunhei os horrores e os milagres

Vivi uma vida de quase satisfação.

Mas sempre curioso, cauteloso com a felicidade

Com as avarias da idade

E com outros problemas que não eram exclusivos à mim,

E que pareciam não acometer nenhuma outra pessoa.

Nunca soube se eu era fraco ou forte demais

Se eu entendia tudo ou não entendia nada

Se eu era o líder ou parte da manada

Se era a solução ou o problema.

Quando olhava para trás, via alguém disposto a melhorar.

Mas ao olhar o presente via que parecia nunca alcançar

Qualquer coisa que acreditava existir mais à frente.

Hoje, neste momento

Quando penso em mim, vejo apenas fragmentos

Cacos espalhados das diversas empreitadas que busquei

E não completei qualquer uma delas.

Busquei a solidão e encontrei o abandono,

Busquei sonhos que acabavam em ruas sem saída

Tratei das feridas que eu mesmo abria como castigo,

Apenas para chorar pela dor incessante.

Vejo interrogações,

Conjecturas, suposições;

Vejo, na realidade, minhas ilusões

Frustrações sobre perguntas de sim e não

Que possuem um leque enorme de respostas possíveis,

E nenhuma que me veste por completo.

Já desejei uma vida sem fim,

Ou interrompê-la como mágica

Tirando da cartola uma carta

E entregando-a pela última vez.

Já pensei nos rostos chorosos

Que prestavam uma última homenagem

Velando alguém que já se despediram

Há muito tempo.

Já sonhei que estive enterrado

Num buraco a sete palmos abaixo da terra.

E me pergunto se o próximo passo

Envolve uma atitude que encerra

A chance de encontrar

O descanso

Em vida.

João G F Cirilo
Enviado por João G F Cirilo em 03/09/2024
Código do texto: T8143158
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