Cancelas Fechadas

Abri cancelas que devia ter mantido fechadas.

Empolguei-me em meus próprios sentires

e permiti que galgassem o vento.

Ainda sonhava com a partilha de tudo que se é

e não apenas de uma parte do corpo -

alma, espírito e o coração...

Acreditei naquele "falar

sobre tudo" que o poema diz.

Vejo que errei...

derramei palavras no lugar errado.

Foram-se qual pólen e espalharam-se

em sementes tortas sobre a terra inóspita.

Morreram minguadas e desgrenhadas

em silêncios tão profundos que feriram a alma.

Agora o tempo é de lamber feridas,

amainar a dor e impedir gangrenas

das cicatrizes bem fincadas...

A vida?

Mesmo o revés, em algum lugar ela segue.

Agora sem concessões para novas permissões.

Já fechei tramelas e instalei cadeados interiores.

Dói, mas desse calabouço gradeado nada mais fugirá.

Simples e triste assim:

quem mandou abrir cancelas

que devia ter mantido fechadas...