Seria eu?

Ah, que meras notas tecladas

Que sentido tem sem ti?

O amargor de um poeta estado sádico

Menti cada acorde, menti cada frase

Cada palavra e sorriso.

Menti sobre minha felicidade

Menti cada passo preciso

Menti minha sagacidade

De que adianta, se aquilo que era'migo

Não se tem mais comigo.

De baixo de tecidos claros e escuros

Abaixo da cabeça,

Meu pescoço se vê amarrado à nobreza

As notas, milhares se fazem rio

Minha fronte se curva

Meus dedos as pressionam

O ser grita em agonia

E eles se alegram.

Ser de que de grandeza é considerável

De beleza infinda

De mistérios resolutos

De estadia permanente

Me assento como acariador e o espremo

Não o expresso, o devido.

Os gritos do ser em madeira ressoam pelo salão,

Eu sei que ele aguenta, ele nasceu pra isso

Mas, não sou eu ele então?

Criado da carne, aos prantos desde meu nascer

Humilhado e sujeito à nudez pública, indefeso

Crescido, posto em ternos e gravatas

Impressionava os grandes

Aplaudiram os montes

E sob seus pés, sangue

Não sou eu como esse ser de madeira?

Que por de trás de aplausos

Sou agredido para ter gritos

Pois é disso que gostam.

Não sou eu como ele que

Sou posto paralizado

Estagnado para ser usado como ferramenta

Útil para apenas quem me complementa?

Não sou eu um piano também?

Que posso ser tocado por todos

Que mesmo com meus gritos surtidos

Aplausos poderossísimos

Mas que depois me fecham e me guardam

Para uma talvez próxima audição?

E se, afinal, eu não for mais útil?

Seria eu a parte nobre do lixão?

Não seria eu um piano, então?