Cortejo
Segue um esquife, um corpo, o choro, a comoção,
Desfile fúnebre da última despedida,
Rezas, cantigas; verdadeira procissão,
Almas sofrentes por uma alma já perdida,
E o som do sino em compassadas badaladas,
Vai tilintando como lágrimas choradas.
Assim que da matriz em fileiras partia,
A alma encomendada e se vestia de bondade,
Aquele corpo que ao cemitério seguia,
Aquela alma numa talvez eternidade,
Divagando, entre o céu e o inferno procurasse,
E a nenhum lugar, sem ser julgada, chegasse.
Carregado pelas mãos dos que o protegia,
Ao campo santo definitivo chegar,
E esta seria a última luz do último dia,
Nunca mais, por nada, deixaria este lugar,
Desce o sol, desce o esquife para escuridão,
Segue a tristeza saindo, fica a solidão.
Desce na terra úmida recém removida,
E agora, por morada, um buraco no chão,
Por sorte terás a visita comovida,
E a lágrima removida do coração,
Logo serás apenas foto na lembrança,
Logo mais ainda, nada serás, nem lembrança.