O MENINO DA FEIRA

 

Em muitas, em quantas ensolaradas manhãs,

eu ali sentindo o cheiro das deliciosas maçãs,

chegava na barraca, e não era um contribuinte.

Ficava ali quietinho,num canto, de campana,

um tempo depois pedia-Senhor, me dê uma banana,

sem dinheiro, não tenho vergonha de ser pedinte.

 

Como não andava sujo,nunca pareci com andante,

e ficava observando  calado, aquele velho feirante,

que disse-Não faz como outros,pega e sai a correr.

-Estou te pedindo, por que estou sem trabalhar,

e te falo uma verdade, nunca aprendi a roubar,

e que desde ontem, que não tenho o que comer.

 

Ficava olhando me,eu que ainda era um menino,

da cabeça aos pés,olhava meu corpo tão franzino,

deu as bananas e saiu.Voltou gritando.-Assim não.

Então comia com tanto gosto, sem deixar lascas,

o que ele viu, foi eu comendo até as cascas,

falei, -Não faz mal,pode ser minha única refeição.

 

Tantas vezes na madrugada, ainda  com orvalho,

eu o ajudava,prestando algum pequeno trabalho,

ele como sempre me olhando, com certa admiração.

Mas só olhava, nenhuma pergunta jamais fazia.

Lembro, numa manhã chuvosa, vi a calçada vazia,

tinha morrido...Até hoje ainda dói  meu coração...

GIL DE OLIVE
Enviado por GIL DE OLIVE em 25/08/2024
Código do texto: T8136951
Classificação de conteúdo: seguro