O MENINO DA FEIRA
Em muitas, em quantas ensolaradas manhãs,
eu ali sentindo o cheiro das deliciosas maçãs,
chegava na barraca, e não era um contribuinte.
Ficava ali quietinho,num canto, de campana,
um tempo depois pedia-Senhor, me dê uma banana,
sem dinheiro, não tenho vergonha de ser pedinte.
Como não andava sujo,nunca pareci com andante,
e ficava observando calado, aquele velho feirante,
que disse-Não faz como outros,pega e sai a correr.
-Estou te pedindo, por que estou sem trabalhar,
e te falo uma verdade, nunca aprendi a roubar,
e que desde ontem, que não tenho o que comer.
Ficava olhando me,eu que ainda era um menino,
da cabeça aos pés,olhava meu corpo tão franzino,
deu as bananas e saiu.Voltou gritando.-Assim não.
Então comia com tanto gosto, sem deixar lascas,
o que ele viu, foi eu comendo até as cascas,
falei, -Não faz mal,pode ser minha única refeição.
Tantas vezes na madrugada, ainda com orvalho,
eu o ajudava,prestando algum pequeno trabalho,
ele como sempre me olhando, com certa admiração.
Mas só olhava, nenhuma pergunta jamais fazia.
Lembro, numa manhã chuvosa, vi a calçada vazia,
tinha morrido...Até hoje ainda dói meu coração...