O som do silêncio
Dizem que o silêncio é a ausência do som,
O contrário de barulho que alcança qualquer dom,
É dom e maldição,
O silêncio não agrega nenhuma canção.
E o jeito que tenta conversar comigo,
Já perfaz mais que o amigo,
Quando não verbaliza,
És grito ou és coriza?
O que eu devo fazer, sem você?
Me deixarias a toda essa mercê,
Porventura não sou digno do sofrimento,
Esse não é nosso juramento.
O que mais me machuca é a falta de falar,
É quase uma falta de se importar,
Escolhi na agonia, escolhi na alegria,
Sei que você não me machucaria.
Gosto de todo tipo de verbalização,
Um sussurro que faz errar o coração,
Um grito de euforia,
Uma voz em sua ira.
Quero palavras, contextos, frases e canções,
Quero ser um sommelier de todas as suas emoções,
Meu melhor amigo não perdoaria,
Se na hora da dor eu não te acolheria.
Mas o silêncio sim tem som,
O som de um coração ansioso,
Um som de um corvo medroso,
O som é luz e esse quarto é trevoso.
Que sentimento pavoroso!
É a falta de verbalização,
Verbaliza a tua ação,
Sem dormir no chão.
Teu filme mudo me entristece,
Penso, não te mereço,
Enquanto não fala,
Eu pereço.
A tratativa do silêncio sempre foi meu algoz,
Pois eu gostaria de sempre ouvir sua voz,
Esse sorriso delicado, essa risada feroz,
Não esse silêncio atroz.
Mesmo que eu seja uma porta,
A tudo ti me importa,
As vezes fico assustado,
De não ser o teu predestinado.
Tenho também minhas inseguranças,
Tenho minhas travas de segurança,
Mas quando você dança,
É a minha mão que lhe traz esperança?
Se o problema é falar, não fale,
Mas por favor não se cale,
Se não for falar, me mate,
Antes que para mim, seja tarde.
E aqui escrevo, uma breve insatisfação,
Pela falta de uma ação,
A ação de falar,
Mesmo que não for para falar,
Que é difícil me amar.