EM SILÊNCIO

 

No canto da sala,

Enigmático olhar,

A hora? Não importa,

Em silêncio se transporta,

Para bem distante,

Da impiedosa realidade.

O sonho a embala...

Enquanto sonha, se enternece,

Esquece que é sinônimo de desencanto,

Que está ali, no canto,

Largada como qualquer objeto,

Esquece que dedicou a existência,

Ao marido, aos filhos, aos netos,

Que se reinventou, demonstrou afeto,

Se renunciou em nome da confluência,

Esquece dos anseios,

Das ingratidões, dos devaneios,

Dos olhares de invisibilidade,

Do sentimento de inutilidade,

Da vontade de se engavetar.

Enquanto sonha... se oferece,

À aragem passante,

Aproveita o frescor do instante,

E do sonho não quer retornar.