A Criança e a Morte
" Este é um poema sobre abuso e exploração infantil"
Tarde da noite fria e chuvosa
A morte estava tomando um chá
Quando bate à sua porta uma criança chorosa
A morte foi abrir e a disse olá
O que queres agora
Nesta noite tão fria
Nestas tardes horas
De lua tão sombria
Como vagas sozinha
Pelo escuro mortal
O medo se avizinha
Não temes o mal?
Mas aquela pequena criança
Parecia ter uma coragem imensa
Adentrou o recinto com muita confiança
Olhando nos seus olhos e pedindo licença
Dizia ela que queria conversar
Falar com a morte que tanto aguardava
Mas a morte nunca ía a visitar
E ela toda noite, triste esperava
A morte sem muito entender
A olhando então a pediu
Por que queres que eu vá te ver?
De mim, nunca medo sentiu?
A menina então respondeu
Jamais temerei mal algum
Pois eu sei que o destino meu
Aguarda um final comum
Eu apenas quero partir contigo
Ir pra bem longe desta minha dor
Livrar-me do meu eterno inimigo
Esquecer que um dia enfrentei este pavor
Eu que já fui nesta vida, tão forte
Lutei e cansei mas jamais desisti
Talvez seja hora de partir junto à morte
E todos os meus temores deixar por aqui
A morte a olhando disse com clareza
Por que queres partir comigo criança
Tu que tens uma vasta beleza
Que carrega contigo como herança
A menina olhando no seu crânio vazio
Disse à morte, em curtas frases
Meu mundo é triste, escuro e sombrio
Meu pai e minha mãe nunca fazem as pazes
Brigas noturnas eu cansei de ver
Minha mãe me bate, meu pai bebe tanto
Só tenho vontade de adormecer
E nunca mais ter que derramar o meu pranto
Nas tardias noites, meu pai me visita
Diz pra ficar calada e não contar a ninguém
Eu já estou farta desta dor maldita
Eu já estou cansada de ser uma refém
E a morte naquele instante
Derramou uma lágrima ao chão
E com a menina partiu pra bem distante
Levando consigo, pega pela mão
Dizendo em voz baixa quase sussurrando
Agora está salva desta crueldade
Nunca mais terá que ficar chorando
Terás no paraíso tanta felicidade