SEM ASAS

 

Entraram no quarto do menino,

Beirando a adolescência,

Depararam com uma bonequinha,

Sobre a cama,

Fizeram o maior drama,

Acharam um absurdo,

Uma indecência,

Bateram-no, chamaram-no,

De mulherzinha, de bichinha,

Xingaram-no de tudo,

O quanto é nome,

Mandaram-no virar homem,

Recuperar o tino,

Proibiram-no de criar asas,

De sair de casa,

Enquanto não mudasse a postura,

Parasse com essa frescura,

Retornar-se ao másculo enredo.

...Encontraram-no com o rosto pintado,

              Com os pulsos cortados,

                                  Ao lado do brinquedo.