Arquivo da Memória: Morto

A casinha parece limpa, silenciosamente, limpa.

Um singelo vento balança a velha cortina na janela

que o sol teima em não aquecer.

Sussurraste pequenas frases e pequenos versos,

mas o coração padece, a mente, por si só, se envereda

pelos caminhos frios dessa vida sem misericórdia.

Nossa prisão de sempre é gélida, resiliente e amarga.

Pratos limpos, cheiro bom pelos cômodos, lavanda.

A alma dolorida, o paladar insípido, agora é se deitar.

Saber que daqui algum tempo, cedo ou tarde,

o resultado de tudo isso é a renúncia ao corpo, ao espírito,

sendo às vezes relembrado numa foto qualquer,

perdida num arquivo morto da memória.

Luciano Cordier Hirs
Enviado por Luciano Cordier Hirs em 23/06/2024
Código do texto: T8091873
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