Arquivo da Memória: Morto
A casinha parece limpa, silenciosamente, limpa.
Um singelo vento balança a velha cortina na janela
que o sol teima em não aquecer.
Sussurraste pequenas frases e pequenos versos,
mas o coração padece, a mente, por si só, se envereda
pelos caminhos frios dessa vida sem misericórdia.
Nossa prisão de sempre é gélida, resiliente e amarga.
Pratos limpos, cheiro bom pelos cômodos, lavanda.
A alma dolorida, o paladar insípido, agora é se deitar.
Saber que daqui algum tempo, cedo ou tarde,
o resultado de tudo isso é a renúncia ao corpo, ao espírito,
sendo às vezes relembrado numa foto qualquer,
perdida num arquivo morto da memória.