Sobre a fuga do choro
A pá no canto da alma denuncia que algo fugiu do controle.
A cratera no chão aponta para um silêncio que berra e espalha-se por todo o ambiente.
Elos pelo chão. Algemas vazias. O inesperado aconteceu: o choro fugiu.
Não se sabe como ele conseguiu, pois sua prisão foi muito arquitetada. Todas as medidas de segurança foram redobradas.
Mas nem os cadeados mais fortes puderam detê-lo.
Ele foi mais perspicaz que seus guardiões e conseguiu libertar-se.
O choro fugiu. Correu alma afora e logo chegou aos olhos.
Abraçou a liberdade agora alcançada e
devagarinho, empurrou a lágrima lentamente, umedeceu a iris e escorreu quente sobre o rosto inteiro. E assim foi, aquela lagriminha em cachoeira se fez. A vida encharcou-se daquilo que ainda não se havia superado.
"This is my final fit
My final bellyache with
No alarms and no surprises (let me out of here)
Please..." (Radiohead)