EXALTAÇÃO À TRISTEZA

Ah, tristeza minha!

Tu que corróis, consomes e destróis,

Quero exaltar-te em versos

Para que todos reconheçam o meu amor por ti.

Tu que habitas profunda em minhas depressões,

Meus fracassos, minhas frustrações e desilusões.

Ah, tristeza minha, quantas noites

Seguimos juntos a irrigar o travesseiro.

Minha alegria é tênue, oscila.

É qual folha de outono que na mais serena brisa

Da tristeza-torrente, se solta e baila

No vazio do nada, até beijar o chão.

Sigo ostentando-te com orgulho farto

Mascarando, da convivência, as lágrimas, rugas e chagas.

Pois que sei que gemem as paredes do quarto

Cada vez que sorrio da minha amada agonia.

E assim, nessa troca íntima infinita,

Sei do enigma de ser triste e ser tristeza.

Pois que recebo-te de braços abertos na alegria;

E aconchego-me na tua total escuridão, quando todas as luzes estão acesas.