AO PAI QUE EU NÃO TIVE

Por onde andará você?
Que rumo tomou camarada?
Como pôde acontecer?
Deixar assim, a sua amada.

Tudo seu era Maria,
Do seu colo era cativo,
Como então, poderia?
Deixá-la sem qualquer motivo.

O primeiro homem que a tocou,
Que Maria conheceu,
De corpo e alma se entregou,
Lindo sonho que se perdeu.

Quanto pranto – quantos ais!
Maria e três meninos,
À mercê dos temporais,
Entoando melancólicos hinos.

Tempo que passa? Passou...
Aos trancos e barrancos, escapamos,
Porém, Maria nunca mais amou,
E a palavra pai, nunca falamos.
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Não camarada; não guardo rancor,
Apenas, dolorida saudade,
De um longínquo genitor,
Que me deixou sem identidade.