LAMA
É tudo o que resta
De papeizinhos
De Sobrenomes
Que alguns tanto exaltavam
De povos italos-germânicos, eslavos
Antes fugiram da fome, do morrer
Aqui fizeram seu sangue crescer
Naquela cadeira na árvore içada, via a nona sentada
Dos bolinhos de fubá
Das xícaras dos cafés
Heranças do nada...
Aquele pano que me vestia
Um sapato gasto
Um pé sobra num telhado
Tudo é lama
Tudo a água levou
Antes levamos os pampas
Antes a araucária tombou
Antes a onça no mato fugiu
Pra bem longe, bem longe...
E na floresta do bugiu
Antes encantada
Encantado ficou
Embaixo d'água...
Éramos lama
Do pó viestes
E a ele voltarás
Voltamos...
E enterramos o passado humano sob ela
Dos tempos que não voltam mais
O teto que já não há
E um futuro que não existe
E das mãos de quem pode fazê-lo
Jamais existirá