A Noite e o Espelho

Uma noite longa em silêncio, um cigarro aceso entre os dedos,

A brasa ardente no reflexo, iluminando a face que não vejo,

As cinzas se desfazem no silêncio da noite, é tudo que tenho,

E os sonhos que anseio se dissolvem na imagem do espelho.

Não há conforto nem brandura no silêncio,

Quando ele grita em meus ouvidos defronte ao espelho,

A ausência de som não transmuta o vazio em aconchego,

A noite devora a luz e traz consigo o desespero.

A noite pede mais um cigarro, mais um trago,

E meu coração se enche de vazio efêmero, alquebrado,

E se liberta na fumaça amarga carregada em meu peito,

Exalando quimeras perdidas e desfeitas, em caminhos que desconheço.

Às vezes desperto em sobressaltos, espasmos da dor a dilacerar,

Os poucos sonhos que consigo sonhar, o pesadelo sempre toma seu lugar,

É seu direito, de fato, tomar para si meu desejo de sonhar,

Já não luto, não resisto, não me importo, só me resta aceitar.

A noite é pesada e escura, não há mais dores a alijar,

Das sombras emergem pensamentos obscuros, não há como escapar,

Na face oculta na noite, uma gota, na boca o sal, na alma a desventura,

E no final de tudo, deixo de viver enquanto vivo, e esqueço de sonhar.