O Barqueiro
O Barqueiro, no triste barco, saiu ao alto mar:
Queria a casa esquecer, queria a dor afundar.
Remava, mudo e aflito, para a Ilha Carmesim,
De tanto amar, chorava a alma do seu querubim.
Quanto mais remava firme, mais sentia o Barqueiro
Que o Mar e a Terra são um único cemitério inteiro.
Tantas lágrimas salgadas marejavam nesse coração
Que perdeu a fé e a razão nas praias da dor e aflição.
Olhou para o céu calado: tudo vive escuro, desolado.
O barco seguia sem rumo o seu breve prumo aviltado:
Quer livrar-se da vida, quer libertar-se do fado fardo.
O Barqueiro em prantos viu o horizonte naufragado:
Quer ser o rubro ocaso, ser o mar chorado, serenado;
E dormir em paz nas profundezas deste mar salgado,
[No ventre marítimo do deus-mítico sempre afogado.
(Em memória de meu amado irmão Leidivan.)