(Poema da Alma enferma)
Minha alma treme como um lirio dentro da água dos teus olhos— minha alma treme como um lirio, com as mãos varadas por abrolhos.
Toda de linho de noivado, á tua porta a tremer, toda de linho de noivado minha alma vai amanhecer.
Anda um perfume de alêm-morte na sua voz dolorida, anda um perfume de alêm-morte nas vestes pálidas da vida…
A hora lilaz desabotôa em flôres de cinza e braza, a hora lilaz desabotôa com um rumor sonambulo de asa.
Pelo canal resam os barcos cheios de graça e de glória… pelo canal resam os barcos a triste história da memória…
Minha alma accorda o caes deserto, florida em rosas de magoa— minha alma accorda o caes deserto, e a sua sombra é um cysne na água…
E sobre as lampadas extintas tombam funebres antenas, e sobre as lampadas extintas morrem as ultimas falenas.
As torres scismam pelo espaço. No silencio erram violinos— as torres scismam pelo espaço… na penumbra cogitam sinos…
Minha alma toda se enclausura no jardim que entardeceu… minha alma toda se enclausura num beijo irreal que não nasceu…
Dentro da água dos teus olhos minha alma treme como um lirio…