FRAGMENTOS
Dona Aurora
Chora
O filho seu
Filho que se perdeu
Nas reticências
Da existência.
Uma dor que a devora
Rasga o seu interior
Dor que monitora
O seu olhar
Lesa – pesa – vigia
Não deixa a alegria
Aflorar.
Dona Aurora
Mora
Na periferia
Da periferia
Vila do acaba mundo
Tem um arrependimento
Profundo
De deixar a terra natal,
De lá pra cá só desgraça
Fragmentos
Vida baça
Sem sentido
Marido...?
Apenas um a ilusão
Deixou-a sozinha
Com um mês
De gravidez
Partiu no vão da madrugada
Labuta descomunal
Miséria – afronta
E para completar
O único filho
Saiu dos trilhos
Virou bandido
Morreu no acerto de contas.
Dona Aurora
Ignora
Tudo o que fez
O amor derramado
O cuidado
A educação
A atenção
Que ela deu
Coitada!
Se sente culpada
Pelo filho morto
O destino torto
Que ele traçou.
Dona Aurora
Deseja ir embora
Pegar o último trem
Sumir simplesmente
Da dor
Da lida
De se ver submetida
A tanto dissabor
Implora
A morte também
Inexplicavelmente
Ela não vem...