O ontem é constante
Certa noite, há muitas luas
A vida nos agraciou com ela mesma
Vimos a luz, ouvimos a chuva
Sentimos o vento e pensamos no amanhã
Certa noite, há muito tempo
A vida nos amaldiçoou com o saber
Com o viver, o sentir e o ser
Uma triste bagagem desprovida do poder
Certa lua, há muitas noites
Nos encantou com devaneios
Com sonhos, esperanças e anseios
Mas seu brilho minguou,
Deixando um buraco no céu
Agora vazio há muito tempo
O céu nos observa com furor
Como quem espera de nós alguma coisa
Mas que soa inteligível em seus trovões
As noites, as luas, o céu
Parecem as mesmas de antes
O antes, o depois e o agora
Parecem os mesmos também
Nada muda, nada passa
Exceto a vontade de confrontar o céu
Essa oscila de tempos em tempos
E passa quando eu preciso lutar
Isso porque, certa noite
Há muitas luas me fiz um pedido
Um desejo, por descanso, por paz
Muito tempo passou num sopro
Com a mesma lua, de novo e de novo
E o céu me disse que eu desejava demais
Eu sinto de novo a mesma coisa
O mesmo de ontem e do dia anterior
De que não sei em que noite estamos
Mas é como se nunca fosse amanhecer.