Cinzas

Faz frio aqui...

Mas quanto sol, meu Deus!

Calor

embebido

diabolicamente

no furor

dos beijos

que a morte

distribui

entre transeuntes e memoriais.

Faz frio aqui...

Mas quanto fogo, meu Deus!

Bandeiras que tremulam

agarradas às mãos trêmulas

de cada filhinho à procura do lar,

de cada imigrante à procura de mar,

pais despedaçados como alvo na mira

de quem vive para despedaçar vidas.

Faz frio aqui...

Mas quanto cobertor, Senhor!

São estatísticas encarnadas

ou carne exportada em forma de gente?!

São enfeites lúgubres ou ensaio de caos?!

Enquanto expostos,

enquanto irmãos,

conquanto que não sejam empecilhos

ao progresso do tal mundo civilizado...

Mortificado!

Fé que duvida, mas permanece.

Grito contido, mas permanece.

Funeral de sonhos onde cada flor pisoteada

nunca se esquece...

Já não suporto, meu Pai:

A dor me prostra por sobre minha face,

enquanto contemplo os retratos do

que seriam faces alheias,

e à procura de algum sussurro,

ar que me sirva para respirar,

olho mais,

choro mais,

resto, apenas...

Cinzas

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 21/01/2024
Código do texto: T7981691
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