O vale escuro
No vale escuro de uma saudade fria,
O coração, em prantos, se derrama.
A vida, artesã de caos e melancolia,
Inspira-me a versar, em triste trama.
Oh, vida breve, como és tão linda e fugidia,
Como o sol que cai e a noite que se eleva!
Com uma navalha, a alma se cortava e espargia
Versos e vida que serão copulados pela treva.
No peito, o eco de risos que se calaram,
De amores que, como pássaros, voaram;
De sonhos que, em silêncio, se enforcaram.
O amor é o náufrago de oásis, navios e eternidades,
E o Medo é o templo de rezas, lendas e carnalidades
No vale escuro que, vendo deus, viu o corpo da dor e mortalidade
[ E o cadáver divino sepultou os espelhos da fé, esperança e caridade.