O que teria me feito ficar?

Teria eu desistido de minha permanência,

se encontrasse em tuas palavras alento de amor?

Teria eu estancado minha hemorragia emocional,

se encontrasse em tuas ações um torniquete se sensibilidade?

Teria eu persistido em uma paixão profunda,

se encontrasse em teu olhar as faíscas do amor que me recusastes?

O que teria me feito ficar?

Atos sinceros de doçura capazes de abraçar a alma,

Melodias de sedução que me fizessem nelas me enxergar,

Carinhos transmutados em estrofes de amor poético,

Contos de romances de quem sonha o amor de olhos abertos,

Sonhos de futuro tecidos na tapeçaria dos dias convividos,

Entregas verdadeiras que conseguem ver um horizonte conjunto,

Cartas ridículas de amor parafraseando os poetas do final feliz,

Constelações de um infinito entrelaçado em um destino comum...

Ah, se tu tivesses mergulhado no meu oceano de intensidade,

Ah, se tu tivesses abraçado minha avassaladora paixão por ti,

Ah, se tu tivesses me dado sorrisos acolhedores em retribuição,

Ah, se tu tivesses me pedido baixinho para ficar e ser teu último amor,

isto teria me feito ficar, isto teria reconectado o espaço entre nós,

porém, só havia uma dedicação, um compromisso, uma vontade, a minha,

suplicando por um sentimento que deveria ser tão natural como o nascer dos dias,

almejando o que destes a tantos que não a quiseram, mas me fostes negado,

como uma punição por ter estado sempre disponível, sempre presente, sempre entregue,

talvez se a tivesse tratado com indiferença, indelicadeza, traições e indignidade,

talvez assim, no que lhe fostes familiar por uma vida, talvez tivesses me pedido para ficar...

É impossível manter o amor por quem não se permite amar na plenitude,

é impossível manter o amor a quem não considera a retribuição como princípio,

é impossível manter o amor a quem prefere ilusões fantasiosas à uma realidade dedicada,

é impossível manter o amor a quem aprendeu a entregar o desamor como reciprocidade,

é impossível manter o amor a quem faz questão de fomentar a insegurança e o término programado,

é impossível manter o amor a quem a todo momento lembra que há uma data de validade à vencer...

Não fizestes nada para me permitir ficar,

não me oferecestes seu colo nas noites mais frias,

não me chamastes para compartilhar da fogueira contigo nos tristes invernos,

não me cantastes músicas apaixonadas no observar das estrelas em longas noites,

não me destes nem umas gotas de água depois de ter atravessado um deserto por ti,

como poderia me manter onde minha vida era consumida e tratada sem valor real?

Como poderia me manter onde cada despedida era uma punhalada em meu coração?

Como poderia me manter onde fingias não me ver no reflexo do espelho que quebraste?

Apenas contavas os dias para a minha partida,

apenas fomentavas ainda mais meus dissabores,

apenas esperavas pelo fim que traçaras em suas crônicas de desamor,

apenas desejavas que me fosse rápido e rasteiro para que voltasses à sua vida de outrora...