ATÉ QUE O VENTO ME LEVE

 

Já que a vida é estranha,

Por dentro, por fora das entranhas.

 

Já que a fada madrinha,

Se escafedeu, me deixou sozinha,

 

No sem rumo da estranheza,

Reticente, totalmente indefesa.

 

Príncipe, princesa, inocente quimera,

Alimentavam a menina que eu era.

 

Já que eu fui iludida,

Pelos livros, pelos filmes, pela vida,

 

Vida que me lançou na realidade,

Exibiu as minhas fragilidades,

 

Me reduziu a fragmentos,

À mercê do tempo – do vento,

 

Do vento me faço valer,

Assumo o jeito errante de ser,

 

De pertencer ao concreto instante,

Sonhar não foi o bastante,

 

Comigo o sonho não tem vez,

E já que me incomoda a lucidez,

 

Transformo-a em loucura,

Alimento a minha gravura,

 

Com rasuras, rupturas, sem porém,

Até que o vento me leve vida além...